Na ala feminina havia uma paciente que era professora universitária e especialista em História da Civilização Grega. Era bem branca, alta e magra, seu rosto apresentava traços finos, elegantes, denotava um ar aristocrata. Seu porte altivo e ereto e sua fisionomia séria e imponente impunham muito respeito. Seu timbre de voz era agudo e estridente. Falava sem parar.
Certa manhã abordou o residente no corredor reclamando que seu médico a estava obrigando a tomar muitos tranqüilizantes. O residente conversou com seu médico e ele concordou em transferir para ele a continuidade do seu tratamento. O residente retirou uma parte dos remédios e aumentou o número de entrevistas.
Certo dia ela perguntou ao residente o que ele sabia a respeito de mitologia grega. Ele respondeu: “Quase nada”. Ela o censurou e perguntou em qual ano da faculdade ele estava. Falou que estava no quinto ano. Ela, ironicamente, perguntou como ele poderia ser médico dela se ainda não havia concluído o curso e ela já havia até lecionado em sua universidade. O residente falou que estava treinando para cuidar de pessoas e que gostava muito desse trabalho.
Brigou com ele durante muito tempo e, após certo período, passou a tratá-lo como filho e como aluno. Essas entrevistas se transformaram em aulas de mitologia grega e ele se tornou um ouvinte atento e aprendeu muita coisa que não sabia sobre a Grécia Antiga. Nos intervalos das aulas falava sobre sua vida. Era solteira, tinha cinqüenta e oito anos, morava só num apartamento modesto e estava aposentada. Sentia-se muito solitária. Nunca dera sorte no amor, pois, segundo dizia, os homens a temiam e não conseguiam se aproximar.
No dia da sua alta pediu desculpas por ter sido ríspida com ele em algumas entrevistas, abriu sua bolsa e ofereceu um velho livro sobre a História da Civilização Grega. O residente sorriu e a abraçou em agradecimento. Ela despediu-se e saiu do hospital acenando com a mão e com a bolsa pendurada no ombro.
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