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Agora que já se passaram mais de quatro décadas que eu entrei pela primeira vez em um hospital psiquiátrico público, posso contar as lembranças desse tempo. Todos os casos narrados aqui aconteceram realmente, apenas os nomes dos personagens foram trocados. Alguns detalhes, desbotados pela memória, podem ter sido omitidos ou alterados, mas não chegarão, com certeza, a mudar o significado e o conteúdo autêntico dos relatos.
É possível que tenham sido dois os motivos que me tiraram do comodismo e me fizeram escrever. O primeiro pode ter sido o temor da velhice e o prazer de reviver a juventude; o segundo, a necessidade de transferir experiências obtidas na prática diária e a obstinação de me opor ao mito da loucura e das suas instituições.
Como estudante universitário acreditei em muitas idéias e conceitos escrito nos compêndios acadêmico e difundido pela boca dos arautos da “doença mental”. Foi preciso vivenciar muitas situações reais para, então, descobrir o véu do discurso tradicional e encontrar, por detrás dele, as verdades que não podiam ser anunciadas para os jovens estudantes naquela época. Hoje posso, com relativa clareza, falar dessas verdades com naturalidade e afirmar para os que ainda têm dúvidas, que a loucura é um conceito ultrapassado e obscurantista defendido por fanáticos ou ingênuos que ainda aceitam a existência dos hospitais psiquiátricos como local de segregação e isolamento; essas instituições são a latrina e a vala comum onde são depositados vivos, pela sociedade civilizada, os restos humanos que sobram do “progresso tecnológico” e do “processo de desenvolvimento”.
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