Comportamento é ação de pessoas, é um fenômeno que envolve, antes de tudo, gente. É um ramo que abrange várias ciências concomitantemente e não pertence ao campo das ciências exatas. Transcende a esfera das meras relações econômicas.
A tendência da humanidade é a de se concentrar nas grandes cidades, o que torna esses núcleos humanos muitas vezes fonte de violência e neurose urbanas.
Dado esse quadro, vemos atualmente deteriorar-se cada vez mais as relações humanas, proporcionando ao indivíduo a experiência da violência nessas relações, que o distanciam da convivência harmoniosa e produz alterações no seu psiquismo e no seu meio ambiente, tornando-o cada vez mais hostil e inadequado para o bem‑estar em comum.
Esta coleção pretende ser uma ferramenta de reflexão para todos os que se interessam pelo fenômeno da violência e pelos fatores que determinam sua existência e expansão, assim como para os profissionais atuantes no estudo dessa área, atendendo à demanda por bibliografia nacional e por novas visões da dinâmica social que possam unir vários interesses acadêmicos no grande desafio de fazer com que, no futuro, a vida em sociedade e sua compreensão não seja mais um privilégio de minorias, mas um direito de todo cidadão.
Apresentação e objetivos
O objetivo deste trabalho é mostrar alguns aspectos do funcionamento de um hospital psiquiátrico antigo e trazer de volta à memória alguns acontecimentos reais, dramáticos e cômicos, ocorridos no seu interior. Essa é uma leitura leve, sem a preocupação acadêmica de aprofundamento maior; uma forma de mostrar como sentem e pensam os internos e como lidam os residentes frente a situações inusitadas.
O tempo em que convivi nesse hospital psiquiátrico como acadêmico residente, lidando com pessoas que, além de pobres, eram chamadas de loucas, serviu para me ensinar que a loucura é uma convenção criada pela civilização branca; que os remédios utilizados para curá-la são ineficazes e camuflam as verdadeiras razões que produzem a desagregação mental; que o termo “doença mental” é desprovido de qualquer sentido lógico e não é uma doença, mas um estado reativo adquirido pelo acúmulo de tensões que o homem experimenta desde sua infância, vivendo numa sociedade que o despreza e esmaga seu afeto e sua dignidade.
Durante minha permanência no extinto hospital público Juliano Moreira, em Belém do Pará, aprendi como não se deve ajudar as pessoas que manifestam comportamentos reativos, através do uso de remédios e diagnósticos. Lá encontrei também profissionais que, como eu, não acreditavam nos caminhos arcaicos que a Psiquiatria Clínica seguia na época e que ainda continua seguindo até hoje.
Foi uma ótima idéia ter feito um curso de formação didática em Psicanálise e ter me submetido a duas psicoterapias: uma individual e outra grupal. Melhor ainda foram as incursões que fiz em aldeias indígenas da Amazônia e os livros de Antropologia que li durante esse percurso, que me ajudaram a esclarecer muitas dúvidas sobre o comportamento individual e grupal dessas sociedades e, sobretudo, das sociedades civilizadas. Não fosse isso eu até hoje estaria receitando remédios e internando pessoas, numa época em que os avanços do conhecimento levaram a considerar o cérebro como um potente órgão computacional que processa as informações internas (do corpo) e externas (da relação social) para organizá-las de forma coerente com as necessidades vitais.
Luiz Gonzaga de Freitas Filho
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